"Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las."
Voltaire

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

ESPÍRITO DE NOBREZA ou ESPÍRITO DE OBRIGAÇÃO?

Se você matar a avidez do oprimido, então sua luz brilhará.

Todo ano é a mesma coisa às vésperas de outubro, novembro e dezembro do Natal e Ano-Novo. Muitas pessoas se mobilizam por meio de parcerias não-governamentais, empresas privadas como redes de tevê e rádio, ou mesmo de modo particular, afim de contribuir materialmente – alimentos, roupas, calçados – para as últimas semanas do ano de desfavorecidos. Isso é, em si, bom. Mas, por quê somente, ou essencialmente, nesta época? Esse fato ocorre de maneira nobre ou surge de uma exigência pessoal e social?

Lembro-me de um seriado de comédia que tange exatamente isso. A personagem com sua família burguesa resolve fazer boas ações em um bairro pobre da cidade. Ao final do dia duro de trabalho por lá, um jovem morador diz para o adolescente da família: “E aí, você vem amanhã?” “E cara, não vai dar, tenho outros assuntos a tratar e...” “Sei, todos são assim... fazem uma colaboração aqui, outra ali e depois vão embora felizes... acham que deram sua contribuição; como se a comunidade não fosse precisar de mais nada!”

Não é ilógica a reação do tal morador. E, nem a da personagem da série. Veja: as colocações de cada um na atual sociedade se encaixam nessa situação. Principalmente, quando se fala em pessoas que anualmente são contaminadas pelo clima natalino. No caso, uma personagem de família financeiramente estável que quer doar apenas um dia de seu tempo para quem precisa.

Sei que, se dar ao trabalho por alguém gratuitamente é um bom gesto. Contudo, geralmente são ações localizadas no tempo e espaço. Atitudes que entorno de um significado deturpado de Natal e de um Novo Ano, serão esquecidas no primeiro dia do ano seguinte, para serem recordadas posteriormente em um ciclo. É da natureza do homem agir dessa forma. Ele não age em prol do outro por vontade própria, e sim, ditado pela sua consciência – pensando em sua satisfação. Uma postura construída em tempos de aparências e não de qualidades interiores. De rapidez física e bom mocismo. Infelizmente estas colocações têm sido incorporadas nas pessoas como um modelo a ser seguido.

Enfim, a percepção de que cada novo tempo significa recomeçar e mudar, inspiram muitos a ingressarem no ramo da Boa Vontade. Pois, aparentemente, boas ações devem ser princípio básico pautado do social para se iniciar uma nova ordem temporal. São poucas pessoas que doam-se de coração para o outro. Estas, que estão em falta. Porque o espírito de generosidade não pode ser inserido ou transmitido, somente vivido e observado. É exatamente por isso que vemos tantos tentarem alcançá-lo, não por honraria, e sim por obrigação moral.

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